Novos produtos não garantem proteção nem substituem medidas básicas, alerta infectologista

Mas o consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia Wladimir Queiroz alerta que as inovações podem trazer uma falsa sensação de segurança, levando a um relaxamento das medidas básicas e realmente eficazes no combate ao coronavírus. Mesmo com novas tecnologias à disposição, os moradores não devem dispensar a máscara e o álcool em gel quando precisarem sair de casa.

No mês passado, o Parque Cidade Jardim, complexo de condomínios na zona sul de São Paulo, teve portão, catraca e corrimãos revestidos com folhas de cobre, metal com propriedade antimicrobiana.

Segundo a Elfer Alumínio, desenvolvedora da tecnologia, a inovação é uma lâmina bem fina de cobre autoadesiva, em folhas de 0,05 milímetros de espessura, que podem ser coladas em objetos muito tocados pelos moradores.

Antes, esse revestimento não era viável, e a instalação de uma maçaneta ou corrimão com cobre exigia a troca da peça inteira.

A espessura fina também garante uma área de revestimento maior, barateando o serviço. O custo para aplicar o produto em uma maçaneta varia de R$ 10 a R$ 20. Em uma catraca, o valor vai de R$ 90 a R$ 130. Já em um corrimão, pode chegar a R$ 400.

“Estudos mostram que o coronavírus pode sobreviver por dias em superfícies de plástico ou de inox, comuns em condomínios. Mas, na superfície de cobre, o tempo de vida do microrganismo é reduzido para até duas horas”, afirma o engenheiro Fabio Passerini, gerente da Elfer Alumínio.

Ele explica que o metal tem íons livres que geram uma espécie de ataque e causam rupturas na membrana dos micróbios, destruindo também seu material genético.

Mais comum em objetos de hospitais, o uso do cobre com a tecnologia que permite a laminação de folhas finas autoadesivas deve, segundo Passerini, se popularizar no mercado residencial.

Condomínio localizado na Oscar Freire, região nobre da zona oeste de São Paulo, administrado pela Auxiliadora Predial, também investiu em novas tecnologias para tentar proteger os moradores contra a Covid-19.

Nos dois elevadores do prédio foram instalados dispositivos que, segundo a empresa Superled, matam microrganismos, incluindo o coronavírus.

Por R$ 2.900, o chamado Vírus Killer, produto com luz ultravioleta (UVC), emite radiação que teria capacidade para inativar o microrganismo.

Os sensores do equipamento detectam movimentos, e a luz é emitida sempre que o ambiente está vazio. A luz UVC pode causar danos quando usada incorretamente, provocando queimaduras de pele e córnea ou câncer de pele.

Equipamentos que emitem luz ultravioleta também são vendidos em modelo portátil, com a função de matar o vírus nas superfícies de correspondências e caixas, por exemplo (preço médio de R$ 150).

Outros itens adquiridos pelos condomínios são tapetes sanitizantes, que usam solução de hipoclorito de sódio para desinfetar calçados (preço médio de R$ 100), e dispositivos que permitem abrir portas com os pés (cerca de R$ 75).

Wladimir Queiroz, da Sociedade Brasileira de Infectologia, diz que alguns dos novos produtos até podem mitigar riscos de contaminação, mas não garantem proteção plena contra o coronavírus.

“No caso do cobre, o vírus tem sobrevida mais curta, mas ainda assim resiste por horas. E, nos espaços comuns, não sabemos quando alguém passou pela última vez no local”, diz o médico.

O infectologista também põe em xeque a eficiência da luz ultravioleta. Segundo ele, os raios podem eliminar microrganismos de superfícies, mas não são capazes de eliminar o vírus em suspensão no ar.

“Provavelmente, a maior via de transmissão do coronavírus é a inalatória. Por isso, nada vai substituir o uso de máscara e higienização das mãos”, afirma Queiroz. Segundo ele, ainda que com as novas tecnologias, a sociedade precisa se manter em isolamento social. Já os condomínios devem garantir espaços ventilados e não permitir aglomerações.

Além de novos produtos que prometem combater a Covid-19, a pandemia tem estimulado parcerias de condomínios com empresas que produzem estruturas que evitam o contato físico.

Em condomínios da zona leste e sul de São Paulo administrados pela Oma, o iFood instalou armários que evitam o contato entre entregadores e clientes. O pedido pelo aplicativo é posto diretamente no armário, que é destravado pelo morador com senha.

A Oma também fechou parceria com a rede Hirota para instalação de mercados autônomos dentro dos condomínios. As unidades, sem atendimento físico, funcionam no modelo “honest market”, em que o morador pega o que deseja, paga e vai embora.

Já na Lello Condomínios, a pandemia acelerou a implantação de uma plataforma que permite a realização de assembleias online e, segundo a administradora, tem capacidade ilimitada de participantes.

“A pandemia acabou acelerando uma transformação digital nos condomínios”, diz Angélica Arbex, gerente de marketing e inovações da Lello.

Outras iniciativas adotadas pelos condomínios contra a Covid-19

Implantação de portaria remota
Serviço funciona com câmeras conectadas a uma central que monitora a entrada e a saída do condomínio. Visitantes conversam com o porteiro a distância. Iniciativa tem sido usada para diminuir o fluxo de pessoas

Assembleias e áreas comuns
Empresas desenvolvem software para realização de assembleias online com capacidade de participantes ampliada. Também criam plataformas para agendar uso de espaços nas áreas comuns

Política de papel zero
Condomínios passaram a enviar boletos e comunicados por email e aplicativos de mensagens, reduzindo o risco de contaminação via papéis e o contato com outras pessoas

Medidas básicas contra o vírus
Instalação de dispositivos com álcool em gel, de placas com avisos sobre obrigatoriedade do uso da máscara nas áreas comuns e de uso restrito do elevador a pessoas que moram no mesmo apartamento

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