O fim dos likes no Instagram brasileiro
Hoje (17) começa a ser testado recurso que deixará de exibir curtidas nas fotos publicadas. Entenda como funcionará – e o motivo por trás da atualização
Já é inegável: redes sociais viciam. Em VEJA, foram publicados muitos textos sobre o tema (inclusive, neste blog). Por exemplo, um estudo do fim de 2017, realizado por pesquisadores da Universidade de Seul, na Coreia do Sul, revelou que o uso excessivo produz alterações químicas no cérebro, com reações e síndrome de abstinência em moldes semelhantes ao que acontece com dependentes de drogas. Dois anos antes, em uma reportagem de capa assinada por mim, apontaram-se muitos sinais de que a maioria da população conectada à internet está se tornando dependente de Facebook, Twitter, Instagram e afins. Uma informação resume o problema: médicos especialistas no tema indicam que 3 horas diárias é o máximo que uma pessoa pode permanecer conectada (fora do trabalho), sem correr o risco de sofrer com o vício; mas, no Brasil, a média de tempo dedicado à internet (a maior parte dele, às novas mídias) é de algo como 9 horas por dia.
De um ano para cá, mais ou menos, as próprias empresas por trás desses sites e apps passaram a admitir o problema – pois este começou a arranhar a imagem (e os lucros) – e a apresentar formas de remediá-lo. Hoje o Instagram anunciou a mudança mais radical, até agora, nesse sentido: o início do fim dos likes para os usuários brasileiros.
É isso mesmo. Um dos elementos mais associados às redes sociais, a curtida, o like, pode ter seu fim na plataforma de fotos – que, aliás, foi tema de meu último livro, que conta como o Instagram foi criado, em história protagonizada pelo brasileiro Michel “Mike” Krieger. Digo “pode” por dois motivos: a mudança começará como um teste; e não raro as empresas de tecnologia mudam de ideia e voltam atrás nessas decisões.
Ainda será possível curtir as fotos e vídeos dos outros no Instagram. A diferença é que apenas quem publicou o post conseguirá ver o número de likes recebidos. Número este que, portanto, não ficará exibido publicamente.
Esse experimento começou em maio, no Canadá, país no qual tem se tido êxito com a iniciativa. Só que o Brasil se trata do primeiro grande público do Instagram – o país figura entre os 3 maiores mercados do aplicativo, atrás dos Estados Unidos (em 1º) e frequentemente se revezando em 2º com a Índia.
Segundo o Instagram, a novidade procura tornar o ambiente virtual mais saudável, menos viciante, um meio para conversas que promovam sentimentos benéficos aos usuários. Afirmou a empresa, em nota oficial enviada a VEJA: “Iniciamos esse teste porque queremos que os seguidores se concentrem mais nas fotos e vídeos que são compartilhados, do que na quantidade de curtidas que recebem. Não queremos que as pessoas sintam que estão em uma competição dentro do Instagram e nossa expectativa é entender se uma mudança desse tipo poderia ajudar a focar menos nas curtidas e mais em contar suas histórias”.
Para o psicólogo baiano Rodrigo Nejm, diretor da ONG SaferNet, a notícia é positiva. Em especial, aos mais jovens. Analisou ele: “Mostra que o próprio Instagram entende que o público tem experimentado uma vivência tóxica e nociva, que não é boa para a saúde, nem para as vendas de publicidade que eles esperam. Há tempos existe a noção de que as redes sociais trabalham com escolhas prejudiciais ao usuário. Como os aplicativos funcionam, como os números se mostram, ou como as notificações são recebidas, tudo é desenhado para criar um ambiente de constante ansiedade e expectativa. Ajustar e equilibrar pode resultar em mudanças extremamente positivas para como as pessoas investem o seu tempo nessas mídias. Essa atualização levará essa discussão aos jovens, que são os mais afetados pelo ambiente online e têm mostrado demandas por uma vida menos artificial”.
(O repórter André Lopes colaborou com esse texto)